Floresta Amazônica |
Parece brincadeira, não é verdade? Mais engraçado, entre aspas, é a
manchete de outra matéria sobre Manaus que estaria empenhada em sair da lista
das cidades menos arborizadas do país. Pode?
Será se caberia o velho ditado popular segundo o qual “em casa de
ferreiro o espeto é de pau”?
Leia também:
Incrustada na maior floresta tropical do planeta... “Um mar de
árvores”... E às margens do pequenino Rio Amazonas, ou melhor, de seu afluentezinho
Rio Negro, e devolve este verdadeiro “presente de grego” para a floresta...
Se com uma infra dessa, passa por problemas desta ‘natureza’... Imagina
o que não se faz por aí com a poluição livre ‘leve’ e solta?
"Poluição de Manaus inibe a fotossíntese da floresta e reduz a formação de chuvas
Está comprovado: a poluição urbana produzida pela cidade de Manaus tem influência direta – e
potencialmente prejudicial – sobre a biogeoquímica da floresta amazônica. Por
onde passa, a pluma de poluição que emana da capital amazonense interfere nos
mecanismos de produção de partículas de aerossóis, com consequências nos
mecanismos de formação de nuvens, sua evolução e a produção de chuva. A
interação da pluma urbana com as emissões naturais da floresta produz ozônio em
níveis que podem ser fitotóxicos para a vegetação.
É o que mostra o artigo “Fotoquímica do isopreno sobre a Floresta Amazônica”, que acaba de ser publicado na revista Proceedings of the
National Academy of Sciences (PNAS).
Trata-se de um dos primeiros resultados da campanha científica
internacional GoAmazon, um grande experimento realizada ao longo de
2014 e 2015 ao redor de Manaus, envolvendo vários projetos financiados pelo
Departamento de Energia dos Estados Unidos (DoE, na sigla em inglês), a FAPESP
e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), entre outros
parceiros.
O projeto liderado por Artaxo, “GoAmazon: Interação da pluma urbana de Manaus com emissões biogênicas da
Floresta Amazônica”, foi desenvolvido no âmbito do Programa de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas da FAPESP, e utilizou, entre outros
recursos, dois aviões de pesquisa com instrumentos de última geração que
sobrevoaram extensivamente a Amazônia central ao longo de 2014 (Mais
informações em: agencia.fapesp.br/20150/).
“O foco dos estudos foi desvendar os mecanismos de interação entre
as emissões de Manaus e as da floresta”,
diz Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo
(USP) e um dos coordenadores do experimento GoAmazon. Com cerca de 400
trabalhos publicados e mais de 12 mil citações, Artaxo foi um dos quatro
brasileiros citados no início do ano entre os pesquisadores “mais influentes”
do mundo pela empresa Thomson Reuters.
Segundo Artaxo, a floresta emite naturalmente os chamados
compostos orgânicos voláteis (VOCs) como parte do seu metabolismo. Uma vez na
atmosfera, os VOCs interagem com outros gases e são oxidados. Esse processo tem
papel fundamental na formação de nuvens e, consequentemente, da chuva que cai
na região.
É neste ponto que a pluma de poluição manauara mostra a sua
influência. As emissões que saem das chaminés industriais e dos escapamentos da
frota de veículos formam uma pluma de poluentes na troposfera sobre Manaus. Tal
pluma é continuamente transportada pelos ventos para longe da cidade,
geralmente na direção oeste, formando uma mancha atmosférica que se estende por
100, 200 e até 300 quilômetros (km) de distância.
Os gases poluentes da pluma alteram as reações químicas dos VOCs
na atmosfera, produzindo mais ozônio e mais partículas de aerossóis do que ocorreria
naturalmente longe da presença da pluma de poluição. “O ozônio é um gás
fitotóxico. Ele é tóxico para as plantas em altas concentrações”, diz Artaxo.
A concentração normal de ozônio na troposfera da Amazônia é muito
baixa, de 10 a 15 partes por bilhão (ppb) no meio do dia. Por onde passa a
pluma poluente de Manaus, as concentrações de ozônio quadruplicam, saltando
para 40 a 50 ppb. “A maior concentração de ozônio inibe a fotossíntese, pois
faz com que os estômatos não se abram para a realização da fotossíntese. Como
resultado, as plantas absorvem menos carbono da atmosfera. Nessas condições, a
vegetação tem a fotossíntese reduzida”, afirma Artaxo. “Uma exposição de longo
prazo da vegetação a elevadas concentrações de ozônio levaria a uma redução na
quantidade de biomassa da floresta que estiver sob a influência da pluma de Manaus".
Tal redução ainda não foi verificada in loco, sublinha o físico brasileiro. “Esta aferição é
muito difícil. Requer um monitoramento de longo prazo. Sabemos do efeito nocivo
das altas concentrações de ozônio sobre as plantas graças aos estudos em
estufas artificiais. Quando as plantas são submetidas a concentrações de ozônio
de 40 a 50 ppb. a fotossíntese é reduzida. Estamos neste momento desenhando
novos experimentos que vão tentar quantificar qual seria o efeito da pluma de
Mansu na floresta,” completa Artaxo.
Interações entre partículas
Um segundo efeito importante observado
no experimento GoAmazon diz respeito às interações entre as partículas formadas
pela interação dos VOCs naturais da floresta com os óxidos de nitrogênio emitidos
pelos carros e indústrias. Foi observada uma produção alta de partículas como resultado
da interação da poluição com as emissões da floresta. Essas partículas afetam
os mecanismos de formações de nuvens, formando gotas menores, que demoram mais
para crescer e evoluir, potencialmente diminuindo a chuva para nuvens formadas
a partir da interação entre a poluição com as emissões da floresta. “Ainda não temos
uma quantidade precisa do efeito, só estudamos os mecanismos até o momento”,
afirma Artaxo.
A compreensão de tais efeitos terá
aplicação em toda a Amazônia, dado que a pluma de poluição sobre a floresta não
é uma exclusividade da área urbana de Manaus. Ela existe, em menor grau, em
todas as outras cidades amazônicas, como Belém, Santarém, Porto Velho e Rio
Branco.
O artigo Isoprene photochemistry
over the Amazon rainforest (doi: 10.1073/pnas.1524136113), assinado por
Artaxo e Yingjiun Liu, Joel Brito, Matthew R Dorris,Jean C.Rivera-Rios, Roger
seco, Kelvin H.Goldstein, Alex B. Guenther, Antonio O. Manzi, Rodrigo A.F.
Souza, Stephen R. Springson, Thomas B. Watson, Karena A. McKinney, and Scot T. Martin,
publicado em Proceedings of the National
Academy of Sciences, está acessível no endereço: http://www.pnas.org/content/early/2016/05/10/1524136113.abstract
Se
gostou deste post subscreva o nosso RSS Feed
ou siga-nos no Twitter
para acompanhar nossas atualizações
*
Follow @Metanoverde
Nenhum comentário:
Postar um comentário