Tem aquela estória do “mal
menor”. Talvez fosse uma maneira de considerar a construção de
usinas hidrelétricas no país, se pensarmos nas demais
alternativas quando se trata de produção consistente com as
demandas para a manutenção do desenvolvimento, sobretudo, quando a
energia nuclear está na berlinda como opção energética.
O fato de a economia mundial continuar
desaquecendo não significa que o Brasil deva reduzir estímulos ao
consumo interno ou retardar os investimentos na infraestrutura. Com
os ventos externos soprando contra e nenhuma perspectiva de
recuperação dos mercados europeus no curto prazo (a estimativa
otimista é de mais três anos de estagnação), muitos analistas
recomendam extrema cautela nos investimentos públicos.
Sempre me pareceu equivocada a ideia de que a
resposta às crises nos mercados financeiros deva ser puxar o “freio
de mão” na atividade produtiva, de modo a restringir o consumo e
desestimular os investimentos. Com as dificuldades no exterior, o
correto é orientar o esforço de crescimento cada vez mais para o
mercado interno, explorando o seu grande potencial de expansão. Numa
certa medida, pelo menos no número de projetos, este já é o
objetivo de uma boa parte das obras apoiadas no PAC.
Na infraestrutura os dois setores-chave são a
energia, especialmente a hidreletricidade, e os transportes,
envolvendo o rodoferroviário, as hidrovias e os portos, basicamente.
No primeiro caso, novos fatores introduzidos recentemente nas
discussões da questão ambiental vieram dar esperança de que
objeções importantes à construção de hidrelétricas perderam
força entre nós. O primeiro deles decorre da divulgação das
conclusões de dois relatórios arrasadores sobre a destruição
produzida pela explosão dos reatores nucleares de Fukushima (o mais
recente, no Japão) e o mais antigo, de Chernobyl (em 1986, na
Ucrânia).
Os custos materiais e
humanos apurados nos relatórios mostram com toda a clarividência
que a construção de usinas nucleares não é mais uma opção
viável, capaz de substituir a energia limpa fornecida pelas
hidrelétricas. As conclusões são tão graves que, embora correndo
o risco de lidar com um enorme apagão, crescem no Japão as pressões
sociais para o desligamento dos reatores, a exemplo do processo já
em andamento na Alemanha e em tenso debate na Grã-Bretanha, países
também fortemente dependentes do fornecimento da energia atômica.
Apesar de não se conhecerem números precisos das
perdas humanas e da população deslocada em razão do desastre, a
radiação produzida no acidente de Chernobyl resultou em milhares de
vítimas que continuam em tratamento médico ao longo desses 26 anos.
No caso da usina japonesa, 100 mil habitantes tiveram de abandonar
suas casas, e é certo que 30 mil dificilmente poderão retornar à
região de Fukushima. Os custos da descontaminação estão orçados
em 600 bilhões de dólares, algo como um quinto do PIB brasileiro.
Informações mais completas foram divulgadas em matéria especial da
revista The Economist na edição
deCartaCapital de 21 de março último, sob o título
“Energia nuclear, uma alternativa fracassada”.
Outro fator que passou a
influir no debate entre nós foi a decisão do governo de apoiar
claramente e com firmeza o Plano Decenal de Energia que prioriza a
construção das usinas nos grandes afluentes da margem direita do
Rio Amazonas para gerar mais 42 mil megawatts de energia hídrica até
2020. Os novos investimentos para atender ao crescimento da demanda
brasileira de energia nos próximos dez anos serão feitos nos rios
Araguaia, Tocantins e Tapajós (usinas de São Luiz e Jatobá, as
maiores), que vão se somar às usinas já em construção no Madeira
(Jirau e Santo Antônio) e de Belo Monte, na Volta Grande do Rio
Xingu.
Apesar de ainda ocorrerem manifestações
esporádicas (como se viu na ocasião da recente Conferência
Rio+20), as objeções de ambientalistas vêm se reduzindo diante da
afirmação brasileira de que o desenvolvimento sustentável de sua
economia depende do aproveitamento dos rios ama-zônicos. Eles
respondem por 70% de todo o potencial de expansão da matriz
energética limpa que o mundo passou a admirar (e invejar). A
impossibilidade da alternativa nuclear reforça essa nossa opção.
Igualmente o Brasil tem demonstrado aos
observadores dos organismos internacionais que não apenas preserva o
ambiente natural da Amazônia como seu governo mantém um diálogo
aberto e permanente com as populações indígenas, ouvindo suas
reivindicações e oferecendo compensações negociadas e aceitas
pelos seus legítimos representantes. Nesse particular o
comportamento brasileiro tem sido exemplar, sem dar margem a
contestações das ONGs por mais interesse que tenham de mostrar o
contrário.
Da Carta Capital
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